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12 de mar. de 2010

Design de produto

Eco-design
Atualmente não temos como falar em Design de produto sem falar de Ecodesign. Este é o termo para uma crescente tendência nos campos da arquitetura, engenharia e design em que o objetivo principal é projetar lugares, produtos e serviços que de alguma forma reduzam o uso de recursos não-renováveis ou minimizem o impacto ambiental. É vista geralmente como uma ferramenta necessária para atingir o desenvolvimento sustentável.
O ecodesign surge como uma resposta à necessidade de introduzir conceitos ambientais, como a poupança de energia, água e de recursos naturais em geral, a minimização de resíduos e emissões e a utilização de fontes de energia renováveis, entre outras, nas várias fases do ciclo de vida do produto. As principais fases do ciclo de vida de um produto são a obtenção das matérias-primas, a produção, a distribuição, a utilização e o destino final. O objetivo principal do ecodesign é reduzir o impacto ambiental do produto em todas estas fases.
Aqueles que defendem esta filosofia acreditam que grande parte dos problemas ambient
ais foram causados pelo design convencional e pela indústria, que desconsideraram os riscos e impactos ambientais ao produzir bens e serviços. O Ecodesign é um meio de reduzir ou eliminar esses impactos e manter qualidade de vida, substituindo produtos e processos por outros menos nocivos ao meio ambiente. O Ecodesign, é acima de tudo, um novo conceito que pode ser desenvolvido através de matérias que usamos freqüentemente, e que apartir deles vamos criar novos objetos. Esses objetos modificados virão a ter um novo conceito. Esta tendência de design, é acima de tudo futurista, e com o objetivo de preservar o planeta e as civilizações futuras.

O projeto "Curi Atá Apenunga", do tupi, Prancha de Surfe Oca de Madeira foi finalista em dois prêmios de design em 2008.

Dos 580 projetos pré-inscritos no concurso, fui classificado entre os 31 finalistas do 1º Prêmio CraftDesign / Objetos de Decoração, tendo participação na exposição da 13ª Feira Craft Design, evento de negócios destinado a lojistas, arquitetos, decoradores, e profissionais da área de decoração onde são apresentadas novas coleções de designers selecionados. O diferencial da CRAFT DESIGN é a seleção de produtos inovadores de decoração, aspectos funcionais, responsabilidade ambiental e contribuição social, itens que atendam as solicitações do mercado. De 13.08 à 17.08 de 2008. Centro de Eventos São Luís. Rua Luís Coelho, 323, Consolação - São Paulo - SP

E também classificado no Primeiro Prêmio Objeto Brasileiro entre 61 objetos dos 1000 projetos selecionados, participando da exposição no Museu A Casa. O Prêmio foi lançado em comemoração aos 10 anos de A CASA – museu do objeto brasileiro, que se dedica ao reconhecimento, valorização e desenvolvimento do design.

Exposição 1º Prêmio Objeto Brasileiro

25/09/2008 a 28/11/2008

A CASA museu do objeto brasileiro
Rua Cunha Gago, 807 – Pinheiros - São Paulo - SP
Informações: 11 3814 9711 | acasa@acasa.org.br

http://www.acasa.org.br/evento.php?modo=acaocultural&id=76
http://www.acasa.org.br/arquivo_objeto.php?secao=colecoes&id=1893


Memorial Descritivo
Projeto: “Curi Ata Apenunga”, do Tupi, “Pau Oco de Andar nas Ondas” - Prancha de surf oca de madeira com impermeabilização de base vegetal.
Autoria: Tiago Matulja, woodsurfer, desenhista industrial. 2006.
Produção: A Flora de Itamambuca. Tiago Matulja e Kiko Horácio, cidade de Ubatuba (capital do surf), São Paulo. http://www.florasurfboards.blogspot.com.


Objetivo:
Criação de uma prancha de surf utilitária e decorativa, 100% biodegradável e 100% sustentável, direcionada a um público jovem, consciente e formador de opinião, que substitua, de forma elegante, atraente e funcional seu concorrente comum.

Histórico:

A restrita bibliografia sobre o surf aponta o seu surgimento nas Ilhas Polinésias, através dos povos nativos, em virtude de sua própria cultura de subsistência, a pesca. Constantemente tinham que se atirar ao mar com seus barcos feitos artesanalmente para pescar, e quando voltavam, deslizavam sobre as ondas para chegar mais rápido à terra firme. Este ritual acabou se tornando um hábito entre as civilizações daquela região. Mais tarde porém, nas ilhas do Hawaii, o surf começou a ser praticado pelos antigos reis havaianos com pranchas feitas de madeira maciça, extraídas de árvores locais.
Os nativos possuíam um ritual religioso para a fabricação das suas pranchas. Uma vez escolhida a árvore, o ritual era iniciado. Colocava-se ao pé do tronco um peixe vermelho chamado kumu e a árvore era cortada. Nas raízes fazia-se um buraco onde, com uma oração, era enterrado o kumu. Em seguida era dado início ao trabalho de modelagem ou shape (forma da prancha); as ferramentas, lascas de pedras e pedaços de coral eram usados até chegar à forma desejada. Com coral granulado (pokaku ouna) e um tipo de pedra bem dura (oahi) era iniciado o trabalho de acabamento para eliminar todas as marcas da fase anterior e tentar alisar a superfície o máximo possível. Com a superfície lisa, eram aplicadas as raízes de uma árvore chamada hili, para dar uma cor negra. Outras substâncias eram utilizadas para impermeabilizar a madeira como forma de encerá-la. Era um ritual festivo, onde os chefes agradeciam aos deuses as farturas do mar, das ondas e os prazeres de brincar nas suas águas. Alguns indícios apontam 1500 anos atrás como sendo o período em que os polinésios desciam as ondas com pranchas de surf feitas de tábuas de madeirite (compensado dos navios ingleses). Como no Havaí, o surf na Polinésia estava associado às raízes religiosas, culturais e de algum modo, sociais. Até o início do século, a maioria dos hawaianos praticava o surf como atividade de lazer. Este hábito passou a ser encarado de outra forma quando o então campeão olímpico de natação, o havaiano Duke Kahanamoku, começou a divulgar o esporte em outros países por onde passava, quando exercia sua função.
Outro dedicado homem do mar, o woodsurfer Tom Blake foi campeão de natação, remo e surf. Foi também um inventor de caráter inovador e trouxe contribuições marcantes para o esporte de correr ondas. As mais significantes inovações para os surfistas de seu tempo foi a quilha e sua prancha oca, produzida primeiramente no final dos anos 20 e início dos anos 30. Nesta época as pranchas maciças pesavam entre 80 e 100 quilos, uma ollo havaiana chegava a pesar até 150 quilos. A prancha de Blake continuava sendo de madeira mas sua constituição oca reduzia seu peso significantemente para aproximadamente 50 quilos, dependendo do tamanho da prancha, tornando o surf mais acessível a um maior número de pessoas. Tom Blake estudou o design das pranchas de surf ancestrais havaianas e combinou seu outline e shape com sua patente de construção e desenvolveu uma série de pranchas de surf e pranchas de remada. Da metade da década de 30 até metade da década de 40, essas pranchas de Tom Blake eram o melhor equipamento disponível e a maioria dos surfistas nos quatro cantos do mundo tinham pelo menos um dos modelos de Blake. Alguns surfistas ainda usaram essas pranchas até 1950 ou mais. Bob Simons criou a primeira prancha de fibra em 1949. Com o advento da espuma de poliuretano e da fibra de vidro, as pranchas de surf ganharam um leveza nunca antes conseguida e a evolução dos shapes veio muito rápidamente. Em meados de 1950, as pranchas passaram a ser comercializadas e na década de 60 o surf tornou-se competitivo e profissionalizante. A partir daí a evolução das fábricas de pranchas, roupas e outros equipamentos destinados ao surf foram constantes. Em 1975, o surf estava sendo reconhecido mundialmente como um esporte ligado diretamente à natureza, ganhando assim um número considerável de praticantes em vários locais onde as condições do mar eram propícias. Toda essa experimentação tendo ocorrido com todo o foco voltado aos materiais plásticos contribuiu para o desenvolvimento do seu design, apropriado às manobras modernas, porém, enfatizando uma combinação bombástica: 100% de petróleo, 100% não degradável, 100% tóxica e 99,99% em vigor nos dias de hoje, totalmente contra a consciência ambiental de seus praticantes.
No Brasil, as primeiras pranchas, então chamadas de “tábuas havainas”, foram trazidas por turistas. A história começa em 1938 com a, provavelmente, primeira prancha brasileira, feita pelos paulistas Osmar Gonçalves, João Roberto e Júlio Putz, a partir da matéria de uma revista americana, “Popular Mechanics”, que trazia o projeto de Tom Blake com medidas e o tipo de madeira a ser usada. Pesava 60 kg e media 3,6 m. Em 1963, George Bally e Arduíno Colassanti, começaram a shapear as primeiras pranchas de isopor. Com uma lixa grossa presa a uma madeira, levavam dois dias para fazer uma prancha. A referência era uma foto de revista. Em SP, Homero, Eduardo Faggiano, o Cocó, Nelsinho e Lagartixa, faziam pranchões de madeira envergados com calor. Mas logo aderiram ao isopor. Em 1969, o Cel. Parreiras, lança o poliuretano branco com química importada Clark Foam (extremamente prejudicial ao meio ambiente e à camada de ozônio). Paralelamente, Homero cria a primeira fábrica de pranchas de SP e passa a comprar blocos Clark Foam do Cel. Parreiras. Em 1970, graças à televisão, o surfe explodiu se tornou um esporte muito conhecido
e o tubo era considerado o ápice. Os campeonatos aconteciam no eixo entre Rio de Janeiro e São Paulo, praias como Arpoador e Saquarema no Rio de Janeiro e, Ubatuba e Maresias em São Paulo se tornarem conhecidas pela beleza e qualidade de suas ondas. Eram nestas praias que aconteciam os principais eventos do surfe. O campeonato brasileiro mais antigo foi o de Ubatuba, realizado em 1971. Já nos anos 80, o esporte passou a atrair investidores e movimentar uma economia considerável. O surfe ganhava destaque em todo Brasil, campeonatos amadores aconteciam em quase todas as praias de Norte a Sul, marcas de surfwear movimentavam o mercado. O surfe se encaminhava para o profissionalismo e grandes empresas investiam no esporte, este foi o grande momento do surfe, quando o desporto fincou suas raízes definitivamente na cultura de praia brasileira e se transformando nos dias de hoje no segundo esporte mais praticado no país.

Conceitos:

1. A busca da evolução do esporte resgatando as origens da velha guarda (oldschool) e o respeito e entendimento dos surfistas ancestrais pela natureza e pela arte que por sua vez tornam sua prancha mágica na força de seu sentimento e religiosidade.
2. A arte, o toque e a liberdade possibilitada pela madeira na escultura de formas orgânicas, fractais que estão no DNA da natureza e na síntese das ondas, do surf e da vida.
3. A substituição de materiais tóxicos e não degenerativos por outros provenientes da biomassa numa pesquisa por novos materiais biodegradáveis, renováveis, sustentáveis, atóxicos e de base orgânica.
4. A valorização da antítese que pode acordar o mundo na quebra dos paradigmas de uma época marcada por produtos descartáveis e feitas sem a menor consciência ambiental, muitas vezes por uma máquina, perdendo totalmente sua individualidade e a fidelidade às suas origens.

foto: Carol da Riva para matéria na revista Vida Simples, editora Abril

Solução e características técnicas:
Substituição do núcleo inercial da prancha, usualmente feito de espuma de poliuretano, material tóxico, prejudicial à camada de ozônio por liberar CFC em sua expansão, sem vida e sem charme, não sustentável e não biodegradável, pela madeira reutilizada ou certificada, proveniente do manejo sustentável e de áreas de reflorestamento, material biodegradável que agrega responsabilidade ambiental, beleza natural e o aspecto old school fashion,
atualmente em alta. Outro ponto forte do uso da madeira é a sua durabilidade, sem amassar ou quebrar facilmente, traz uma vida útil 5 vezes maior ao produto final. Substituição da tóxica laminação com fibra de vidro e resina poliéster, de base mineral, não biodegradável e não sustentável, por uma impermeabilização vegetal atóxica, 100% biodegradável, 100% estanque e hidrorepelente, translúcida, que valorize o caráter do desenho natural da madeira. Para que essa substituição seja funcional, devido ao peso elevado das madeiras disponíveis, a prancha deve conter o mínimo de madeira possível, no limiar de sua resistência, para que continue equivalente em peso às pranchas comuns. Sendo assim, um cavername formado de peças de madeira finas e aliviadas dão o formato interno da prancha, como em uma embarcação, delimitando seu volume interno e a quantidade de ar que trará a sua flutuação. Chapas de madeira, finas o suficiente para seguir a curva do cavername, são usadas para o revestimento porém devem trazer a resistência necessária para a eliminação do reforço externo da laminação de fibra de vidro com resina poliéster. Para tornar o conjunto completamente estanque, decidimos por utilizar uma resina poliuretana de base vegetal que deve preencher as prováveis fissuras, impedindo a passagem da água para o interior oco da prancha.
Com design moderno das pranchas atuais e usando a inventividade de nossos ancestrais, podemos dar continuidade a uma linha de pensamento esquecida, à partir de novas tecnologias que possibilitam hoje uma evolução consciente.


Inovação e Originalidade:
Este projeto traz inovações nos três âmbitos, uso, desenho e materiais, por seu propósito. A começar pelo emprego de materiais não usuais como a madeira e outros recém inventados
como a cola e a resina vegetal. Suas formas externas continuam sendo de uma prancha de surf porém o desenho interno de sua estrutura e o método de construção trazem inovação no design e em seu uso que passou do puramente utilitário ao ganhar caráter decorativo por sua beleza, estilo e justamente originalidade.

Impacto Ambiental:

O impacto ambiental causado por uma prancha de surf de madeira é considerado positivo. Apesar de sua matéria prima básica vir de um ser vivo que precisou morrer, a quantidade de madeira utilizada na construção de uma prancha chega a ser irrisória, uma vez que as
pranchas são ocas, ou seja, cheias de ar, e apenas uma fração de seu volume total é feito deste material.
De qualquer forma, esta madeira deve ser certificada pelo FSC, vinda de áreas de reflorestamento e manejo sustentável ou melhor ainda, se for reciclada, da transformação de objetos obsoletos e descartados. Ao substituirmos materiais frágeis, tóxicos e não degenerativos à base de petróleo por matéria orgânica, de resistência superior, estamos fazendo duplamente um bem maior ao meio ambiente. Enquanto pranchas de surf feitas de espuma e resina a base de petróleo são funcionais por cerca de 5 anos, e depois deste
período passam séculos nos lixões até se degradarem por completo, pranchas de surf, feitas de madeira com resina vegetal, são funcionais por muito mais tempo, devido à sua resistência superior, e se algum dia perderem sua função, em poucos anos se desfazem, retornando em forma de nutrientes ao meio ambiente.

Perspectiva Mercadológica:

O surf no Brasil começou a ganhar expressão à partir da década de 70 e o esporte que no início contava com poucos adeptos, em 3 gerações atingiu o número de 3,5 milhões de praticantes. Movimenta quase 3 bilhões de reais por ano com crescimento de 10% ao ano desde o ano 2000. Deste número de praticantes, temos um grande porcentual das classes A e B, pessoas de alto poder aquisitivo, que vivem o estilo de vida do surf, consumindo produtos de qualidade e diferenciados,que o destaquem na sociedade. Hoje, tanto na moda quanto na decoração, artigos modernos que remetem a um passado nostálgico estão em alta, assim, as pranchas de surf ocas de madeira, com sua estética retrô, aguçam o interesse deste público formador de opinião que por sua vez alimentam os desejos de um público muito maior, podendo passar facilmente a casa dos 50 milhões de indivíduos, os simpatizantes do esporte, por sua vez alimentam a indústria do surfe sempre em busca deste lifestyle. No âmbito internacional, considerando o mercado de exportação, este número sobe vertiginosamente para mais de 200 milhões de pessoas. Servem à decoração de casas e condomínios de alto padrão em todo litoral, pousadas, hotéis e surf camps nas praias mais badaladas do mundo, bares e casas temáticas, lojas de esportes e surfshops, stands em feiras de esporte e aventura, cenografia de filmes, novelas, comerciais, programas de TV e catálogos de moda* (*foto: Carol da Riva para catálogo de bikines).
Responsabilidade Social:
A responsabilidade ambiental primordial que traz este projeto se traduz em responsabilidade social. Uma vez que estamos substituindo um material que faz mal aos indivíduos de uma sociedade, estamos firmando um compromisso com sua evolução. Outro aspecto social se dá pela facilidade de adaptação de leigos na construção dessas pranchas, por sua característica artesanal e pela falta de necessidade de maquinário específico. Favorece grupos menos privilegiados que podem ser formados por jovens carentes, idosos, presidiários, etc e indicam a possibilidade desta interface solidária com este compromisso social em seu desenvolvimento.

Viabilidade de Produção:
Várias etapas permeiam toda produção de uma prancha de surf oca de madeira, mão de obra específica é necessária porém vários processos podem ser mecanizados para aumentar a produção. Artesanalmente, uma prancha pode ser feita a mão com poucas ferramentas por um artesão experiente em aproximadamente 15 dias, porém com uma router CNC, cortando as peças por computador e uma linha de montagem de pranchas contando com diversas prensas de colagem e alguns artífices, este número pode chegar
a 60 ou até 100 pranchas por mês, dependendo do tamanho da estrutura.

Qualidade e Segurança:

Qualidade funcional equivalente às outras pranchas existentes no mercado, com durabilidade superior evidenciada pelas qualidades da madeira. Para não correr riscos de aumento e baixa da pressão interna, do oco da prancha, pela mudança de temperatura, é instalada uma válvula que deve ser mantida sempre aberta, sendo fechada apenas quando for colocada na água para torná-la estanque. Se por algum acidente a prancha começar a fazer água, a válvula também funciona como um dreno.

Conceito da marca:

Amarca “A flora” foi criada para lincar o nosso produto e materiais utilizados à sua origem vegetal. No logotipo, as pranchas são posicionadas de forma a remeterem à floração, símbolo de vida, beleza e desenvolvimento de uma ideologia que começa a desabrochar.
Mais informações no blog www.florasurfboards.blogspot.com

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